segunda-feira, 28 de março de 2011

The Walking Dead

Sempre gostei de zumbis. Os filmes do gênero sempre me cativaram e despertaram um interesse grande. Desde os tempos em que tentava achar um VHS do "The Night of the Living Dead", até os dias de hoje, em que volta e meia faço o streaming de alguma versão qualquer e assisto no computador - não adianta, a temática sempre me fascina. Sou fã inveterado do George Romero - deus-todo-criador da zumbizada como conhecemos nos dias de hoje. Apesar de alguns, por assim dizer, vexames nas suas últimas produções, o cara continua o cara. Romero é foda e ponto final.  

Há alguns anos vi que a Image havia lançado uma revistinha chamada The Walking Dead. A Image - editora americana outrora gloriosa e milionária -, que ainda luta para voltar aos tempos do auge de Spawn e toda uma franquia vencedora, nunca chegou a entusiasmar muito com suas publicações atuais. Mesmo seus carros-chefes, com o tempo, entraram em decadência. Nos últimos anos me impressionou a maneira com que Spawn simplesmente deixou de ter qualidade. Enfim, fui cético quando bati o olho com a revista do The Walking Dead. Não respeitei a publicação e tampouco me deixei convencer pela história que estava ali contada. Cheguei a aprovar a estética de um preto e branco elegante, que abusava das belas sombras; mas não li nem comprei o encadernado. Desse primeiro encontro faz 2 ou 3 anos. 


Quando estava na Europa, em um momento caseiro, comecei a ver o OmeleteTV, programa semanal de novidades e destaques do site www.omelete.com.br. Em razão do lançamento da série televisiva da AMC, baseada integralmente na banda desenhada, os apresentadores falaram bastante na franquia. Depois de ver alguns caras que respeito rasgarem elogios e mais elogios à saga zumbi, tanto no âmbito de história em quadrinho quando dos episódios em formato televisivo, decidi aceitar a derrota. Admiti ter menosprezado o trabalho de Robert Kirkman e encomendei o compêndio americano de 48 edições para ter a obra sangrenta em mãos assim que chegasse ao Brasil depois do intercâmbio na França, somente cerca de três meses da data que encomendei. Apenas comecei a ler a obra-prima faz umas duas semanas e fiquei orgulhoso da compra. Além de ser uma edição muito bem editada e luxuosa, é substancialmente mais barata que a versão brasileira.

A começo da trama é bastante simples, e até mesmo um pouco batido demais, mas é nesse ponto em que passei a subestimar a história para ser fortemente surpreendido. Apesar de existirem vários filmes e obras pop que se dedicaram a criar e a experienciar as mais diferentes situações de zumbis x homens, essa banda desenhada definitivamente inovou. O ambiente em que os sobreviventes se encontram cresce gradualmente para um nível descontrolado de violência visceral em que não é poupado nenhum sangue. Personagens surgem e desaparecem por meio de emboscadas de grupos de zumbis, sempre bem montadas e desenhadas pelos autores. Na velocidade que brotam no ambiente sombrio, os personagens são mutilados, dilacerados e mortos. 


Nessa capacidade de divertir o leitor que reside um dos méritos dos artistas. O inovador da série é que o enredo consegue aliar o gênero gore - com direito a muito sangue e com cenas de violência bem montadas -  a um roteiro excelente. Especialmente nas edições mais avançadas, as questões importantes da trama não deixem de ser robustas e muito bem trabalhadas. Chega um momento da evolução dos fatos em que os fatores são tantos que é difícil saber para que futuro que espera o grupo de não-infectados. As problemáticas crescem em complexidade e são esquematizadas pelo autor de forma original e interessante.

A originalidade reside no fato de que, diferentemente de outros trabalhos cinematográficos em que sempre se busca a cura do infecção ou o contato com o "Estado" a todo custo e se acaba o filme, pouco se sabe da situação geral do mundo e o foco é direcionado, pelo menos no começo da saga, para as relações sempre tensas entre os personagens do diversificado grupo. Em poucas palavras, uma revista que achei que seria meramente divertida algum tempo atrás, se tornou conversa de gente grande. Fiquei por muitas vezes com aquela vontade desenfreada de ler rapidamente as duas páginas em minha frente para poder logo virar para as próximas páginas e saber o que iria acontecer em seguida. É sempre uma bela surpresa encontrar uma dessas pérolas quando menos esperamos. Nunca canso de perseguir a sensação de felicidade que sinto quando me vejo às voltas com uma boa história em quadrinho, para assim poder me divertir e esquecer do mundo ao meu redor por algumas boas horas. 

Créditos da obra: 
The Walking Dead (Escrita e Criação - Robert Kirkman / Desenhos - Charlie Adlard)