Depois de uma bela noite de trago, eclode a avalanche de pensamentos. Após encher a cara em grande estilo, as idéias brotam aos borbotões; antigas experiências vêem a tona; discussões outrora cruas em minha cabeça viram munição para a reflexão; breves e antigos pensamentos evoluem para insights profundos e argumentos sólidos.
Talvez a mais longínqua recordação que tive hoje remonta a um ou dois anos atrás. No caminho para uma session de snowboard com um dos meus primo austríacos, o Rudiger, trocamos algumas idéias sobre a política nos diversos países do mundo. A pauta foi sobre como a única coisa que une todas nações do mundo é a completa podridão do corpo político global. Nós brasileiros as vezes pensamos que temos a única democracia podre do mundo, que corrupção pior que a nossa, só na Africa. A frase que marcou a conversa foi a qual ele, europeu, definiu a situação da política global atual: "hoje em dia, todas as ações mais nefastas e degradantes que podemos imaginar que nossos políticos cometem, eles estão de fato fazendo". Não adianta se iludir, o mundo anda mal - com o crescimento dos meios de comunicação, vemos claramente se desvelar a triste cortina que cobre o mundo da sua barbárie.
Parece que quanto mais se tenta aperfeiçoar uma idéia de ética humanista global, maior é o retrocesso. Em nome da justiça, da soberania e da nação, genocídios continuam a ser perpetrados em todos cantos do mundo. Enquanto leio o Relatório Sábato, principal compêndio sobre o 'saldo' de mortes e torturas cometidas no período da ditadura militar argentina, reflito sobre quanto tempo terei de esperar por ler um trabalho parecido sobre a Venezuela de Chavez. Quanto tempo terei que ver o esquerdismo da América Latina aplaudir um facínora, para depois ter de ler sobre a opressão, a tortura, os assassinatos e as perseguições políticas?
A impressão que fica é que os poucos bons políticos que o Brasil tinha ou morreram, ou não foram reeleitos. Enquanto, pelo outro lado, a cada nova eleição vemos a ascensão de candidatos ridículos que me recuso até mesmo de citar o nome. "Pior do que está não fica", não é mesmo? Ledo engano, meu amigo. O Brasil ainda tem um poço de podridão moral bem grande para descer. Se com o crescimento econômico magnífico brasileiro nós conseguimos aumentar a passos largos nosso apartheid social, imagine quando bater na nossa porta a próxima crise!
Sinto uma pena, para não dizer um embaraço, de minha geração estar tão longe da política brasileira - esta tão repugnante e suja, que espanta os jovens de seu seio. Como falei acima sobre a política mundial, a Europa pode não ser o paraíso da ética política, mas aqui a juventude é engajada, faz barulho, integra o corpo democrático de seus países com força e convicção. No Brasil só consigo ver na juventude uma militância cega e ultrapassada ou jovens burros, arrogantes e perdidos no próprio ego. Sei que reclamar é fácil - muito fácil -, eu mesmo me repreendo por não me engajar mais na luta por justiça e por um país melhor.
Todavia, penso que ajudar a construir uma consciência coletiva do nosso déficit de seriedade para moldar um bem comum para a nação já é um passo, uma fagulha de esperança para tempos melhores.
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